Da Ni e Vasco Valente orbitam quadrantes diferentes da mesma constelação. Um moldado pelo vinil antigo, pó das lojas de discos e noites em clubes de pé-direito baixo, o outro por socalcos do vale, barris de fermentação e um palato de pista apurado por anos de seleção densa e embriagante.
Da Ni construiu a sua arte a partir da pista, juntando géneros como se fossem histórias de casos musicais, onde nada é previsível mas tudo parece inevitável. O seu digging por pérolas esquecidas dos anos 90 não é nostalgia, mas uma missão de recuperação de dados em hardware antigo e obsoleto. Já as seleções de Vasco têm o tempero do vinho: robustas, maturadas, buriladas por uma década de residências e enraizadas num terroir sónico muito próprio. Complexo.
Bebem de fontes distintas, mas servem-se no mesmo copo. Precisos, pacientes e encorpados.
Um fluxo interminável de instinto, subtileza e libertação.